O adoecimento dos professores em
razão das condições de trabalho e inadequada composição da jornada acarretam um
custo crescente para os sistemas de ensino com a concessão de licenças e com
substituições.
O Estudo “Identidade expropriada
– retrato do educador brasileiro” realizado pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE), em 2004, mostra que distúrbios vocais,
stress, dor nas costas e esgotamento mental e físico são as principais causas de
afastamentos de cerca 22,6% dos professores por licenças médicas em todo o
Brasil. Ao mesmo tempo, de acordo matéria publicada pelo jornal Folha de S.
Paulo, que teve como fonte dados oficiais, somente de janeiro a julho de 2010
foram concedidas na rede estadual de ensino paulista 92 licenças médicas
diárias por motivos de saúde, o que representa 19 mil professores ao ano,
sobretudo problemas emocionais, e nada indica que este índice tenha se reduzido.
A rede conta com cerca de 220 mil professores.
Pesquisa da Universidade de
Brasília (UnB), realizada para a CNTE em 1999, a primeira sobre o tema no
Brasil, ouviu 52 mil professores, em 1440 escolas nos 27 Estados brasileiros.
Naquele momento, os dados revelaram que, em nível nacional, 48% dos educadores
sofriam algum tipo de sintoma do burnout, que provoca cansaço, esgotamento e falta
de motivação.
Outra pesquisa, também
desenvolvida pela UnB na Região Centro-Oeste do país e divulgada em 2008,
corrobora esses dados, indicando que 15 em cada 100 professores da rede pública
básica sofrem da Síndrome de burnout. O estudo foi realizado ouvindo 8 mil professores
da região e identificou três sintomas mais citados pelos entrevistados: baixa realização
profissional, alto grau de esgotamento emocional e distanciamento dos
estudantes.
Em abril de 2010, a Fundação
Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro),
entidade ligada ao Governo Federal, publicou a pesquisa “Condições de trabalho
e suas repercussões na saúde dos professores de Educação Básica no Brasil”. Segundo
a publicação, corroborando resultados de outras pesquisas:
·
As duas maiores queixas médicas dos professores
que participaram de nosso estudo foram os problemas de voz, anteriormente
citados, e os transtornos psicológicos, expressos sob a denominação de
estresse, depressão, nervosismo, burnout e sempre relacionados a sentimentos de
cansaço, frustração, culpa, desânimo, baixa auto-estima, excesso de trabalho.
Em outro trecho, o estudo
afirma:
(...) podemos esboçar um quadro sobre as situações
que mais causam sofrimento no trabalho de professor: ver-se constrangido (por
meio de avaliações ou ameaças explícitas ou veladas) a fazer o que não acha
correto; não conseguir fazer o que acha correto (por falta de infraestrutura
das escolas, falta de instrumentos pedagógicos, falta de tempo, falta de
formação, falta de apoio), ser confrontado com situações com as quais não sabe
lidar (violência, extrema pobreza), ser considerado culpado pelas mazelas da
educação, sentir-se isolado nos seus problemas, sem apoio de instâncias colegiadas,
não ver seu esforço nem seu trabalho reconhecidos, sentir que seu trabalho tem
sido desvalorizado, social e financeiramente.
Outros estudos, estaduais,
regionais ou de âmbito nacional confirmam esses dados sobre a saúde dos
professores, sobretudo no que se refere às principais doenças que acometem estes
profissionais e as razões mais citadas para esta situação, entre elas a
superlotação das salas de aula, barulho, número excessivo de aulas, entre
outras.
Um exemplo é o Estado de São
Paulo. Pesquisa do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São
Paulo (APEOESP), realizada em 2010, também aponta como as principais causas do
adoecimento dos professores o estresse, as doenças da voz, tendinites, lesões
por esforço repetitivo (LER) e bursites. Depois das dificuldades de
aprendizagem dos estudantes e da superlotação das salas de aula, a jornada de
trabalho excessiva aparece como a terceira causa mais citada pelos professores
como razões de sofrimento no trabalho. A pesquisa também constatou que mais de
52% dos professores trabalham entre 31 e 40 horas por semana e mais 10%
trabalham mais de 40 horas semanais. 20% dos entrevistados desenvolvem outra
atividade profissional além do magistério.
A título de ilustração, dados do
estudo “Um olhar para o interior das escolas primárias” (UNESCO, 2008,
Indicadores Mundiais de Educação para Países em Desenvolvimento, Maio de 2008,
p. 133) mostra que, na comparação com outros 10 países, o Brasil é um dos que
tem um dos menores tempos médios destinados às atividades extraclasse, cerca de
15% da jornada, no caso de professores que lecionam em apenas uma escola. No
caso de professores que lecionam em mais de uma escola esta média cai ainda mais,
ficando abaixo dos 10% da jornada semanal de trabalho.
No contexto da lei que trata do
piso e da luta pela implantação da jornada ali prevista, conjuntamente com a
melhoria das condições gerais de trabalho dos professores, se os governos investirem
na valorização docente, deixarão de gastar recursos com licenças médicas e
outras consequências do adoecimento dos professores, podendo investir mais na qualidade
de ensino, beneficiando, sobretudo, as crianças e jovens usuários da escola
pública.